Tiago Iorc, conhecido por ser uma das vozes das trilhas de novelas globais, redescobriu-se em seu novo álbum, “Troco Likes”. Durante sete anos, o artista ficou marcado por compor basicamente letras em inglês, que conseguiram encantar o público brasileiro e firmar dezenas de fã-clubes pelo país. Mas, agora, o feeling é outro. Aos 29 anos, Iorc propõe uma verdadeira guinada em sua carreira, expondo um lado seu completamente desconhecido do público. Isso porque, pela primeira vez, o seu repertório será inteiramente em português.

Essa mudança de postura já começa pela capa do projeto, que ganhou uma ilustração bem colorida, onde o rosto do cantor aparece em foco. O sorriso é aberto, mas forçado por um pregador em cada bochecha. Ou seja, nada parecido com as capas de “Umbillical” (2011) e “Zeski” (2013), que tinham artes simples e bem íntimas. Por dentro, as transformações são ainda mais perceptivas. Agora, Tiago Iorc navega pelo pop e traz letras despojadas onde o foco são às linguagens impostas pelas redes sociais. Tudo a ver com o nome do projeto, ”Troco Likes”.

Para explicar um pouquinho mais sobre todas essas mudanças, e falar um pouco da estreia da turnê "Troco Likes”, que aconteceu no dia 29 de julho em São Paulo (SP) , o cantor conversou comigo recentemente. O que rolou nessa entrevista você confere a seguir:

Como foi a estreia da turnê? Você estava nervoso?
A estreia de uma turnê é um momento único, porque a gente renasce junto com a estreia, sabe? Mas eu estava tranquilo e bem relaxado. Quando entrei no palco vi que a casa estava lotada, e aquilo me ajudou ainda mais. Vi todo mundo cantando junto. O público de São Paulo é muito especial.

Como você se prepara para entrar no palco? Tem algum ritual? 
Meia hora antes do show eu começo com os aquecimentos. Gosto de ficar quieto, na minha. Coloco uma música que eu gosto no fone de ouvido pra ficar concentrado e entrar numa sintonia bacana. No mais, tudo tranquilo. Eu só não gosto muito de falar antes do show [risos].

Sua música cresceu muito nos últimos anos. E esse novo disco conseguiu expressar bem essa sua nova fase, que está bem mais madura. Como você define essas mudanças?
De uns tempos para cá, eu vim sentindo uma vontade gigante de fazer música para as pessoas. E isso é o que dá sentido ao que faço. O que eu crio é algo particular, é verdade, afinal eu escrevo sobre os meus sentimentos. Mas isso não muda o resultado, porque agora eu sinto que posso dividir a minha experiência e o que eu acho bonito com muito mais pessoas. E essa troca é fundamental, sabe? Dividir isso com o público e receber tanto carinho de volta. É a parte mais importante do meu trabalho.

Você já emplacou diversas músicas em novela. Mesmo assim, você faz parte de um cenário mais alternativo da música, digamos. Alguma vez você já pensou em mudar isso? Partir para o pop, por exemplo? 
Eu faço o que gosto. Sempre. Mesmo assim, estou em constante busca de novas tendências, porque o meu objetivo é atingir a maior quantidade de pessoas possível. Por conta disso, acho que ‘Troco Likes” ficou um pouco mais pop. Mesmo assim, não acredito que saí muito do meu universo, afinal, quero atingir as pessoas através do que faz sentido para mim.

E por falar em “Troco Likes”… é um nome muito criativo e bastante interessante, principalmente porque nós vivemos em um momento muito ‘digital’. Como surgiu esse título? 
Justamente por vivemos em uma era tão digital, onde o like é tão usado e valorizado, quis fazer essa brincadeira. Mas virou meio que uma análise, sabe? Porque a realidade é que vivemos em um comercio de significados: se eu significo para você – se você me der um like – você também significará para mim – eu vou retribuí-lo. Ou seja, agora a minha arte pode significar para o mundo.

Suas músicas bombam na internet, e, por isso, o novo disco foi disponibilizado gratuitamente por lá. Em contra partida, o projeto trouxe a faixa “Sol Que Me Faltava”, que oferece uma espécie de crítica a sociedade… dizendo que as pessoas se preocupam mais em estar conectadas do que curtir realmente. Como você explica essas questões? 
É mais uma observação do que estamos vivendo, sabe? Acho que nunca paramos para pensar no que estamos fazendo, se estamos realmente dando valor para as coisas certas. E ‘Sol Que Me Faltava’ fala disso. Desse vazio que nós temos dentro de nós, dessa busca incessante por significados. Estamos meio que exacerbados na vida, e isso é triste.


“Existe um vazio muito grande dentro da gente. Abastecemos nossas redes sociais para suprir essa necessidade de ser alguém, de ter atenção, de ser ouvido, e acabamos preenchendo esse vazio com coisas que nem estamos precisando! Sabe o que eu vejo? Que há muitas pessoas que são tão interessantes em uma foto, e, por dentro, elas são vazias. E aí, eu te digo: a vida, a vida real, é mais do que um like.”


Então, você acredita que as redes sociais e esse lance de tirar foto de tudo acaba prejudicando sua arte? Porque, você sabe, às vezes as pessoas estão mais preocupadas com o celular do que com o show em si. 
Graças à Deus as pessoas são bem participantes nos meus shows. Claro que todo mundo quer registrar tudo, mas percebo que é algo mais contido, sabe? Mesmo assim, há algumas vezes que isso me incomoda, claro.

Ao contrário do seu disco anterior, agora você traz mais músicas em português. Isso quer dizer que você quer se consolidar ainda mais no território nacional? 
Se eu quero uma música que toque e que conecte as pessoas, eu preciso tornar isso real. E as músicas em português de ‘Zeski’ me proporcionaram isso. Foi aí que eu decidi continuar fazendo o que gosto, mas de uma maneira diferente. Quero ver as pessoas cantando nos shows, participando, quero ser entendido. Isso não quer dizer que eu vá parar de compor em inglês, claro, mas meu foco agora é o território nacional.


“Eu lembro de um evento que eu participei lá em Curitiba (PR), onde eu cantei para o pessoal de uma ONG. Na passagem de som um senhor me parou e disse ‘eu adorei essa letra’. Aquilo me tocou. Era “Um Dia Após o Outro”, uma composição minha, uma das poucas em português daquela época. Foi aí que eu entendi que eu deveria mudar, escrever mais em português, porque só assim eu poderia atingir mais pessoas”.


Você considera “Troco Likes” um disco autobiográfico? 
Tudo o que eu escrevo é o que eu vivo. Depois que eu componho, faço a melodia, que também está amarrada com os meus sentimentos. E eu vivo um momento ótimo na minha vida, sabe? Por isso sinto que o disco está mais alegre, mais leve.

O videoclipe de “Coisa Linda” foi liberado há um mês. Quais são os seus próximos passos
Três músicas destacaram-se no disco. “Amei Te Ver”, “Mil Razões” e “Alexandria”. Para o próximo single, é provável que eu escolha “Amei Te Ver”. É uma música linda, muito romântica, e que o público já está curtindo bastante.

E tem alguma faixa que é mais especial para você? Por quê? 
Definitivamente, ‘Alexandria’. É uma parceria incrível que eu fiz pro disco, com um cara mais incrível ainda. Sou fã do Humberto Gessinger, e me considero entusiasta de tudo que ele reverbera. E foi lindo isso, sabe? Meu maior objetivo é dividir minha música, ser ouvido, e dividir esse momento tão importante na minha carreira foi maravilhoso. É muito bom saber que a minha música proporcionou um momento tão bacana como esse.

Só para finalizar… se você pudesse escolher um artista para uma parceria que, para o seu publico, seria inusitado, qual seria? 
Luan Santana! [risos] Isso é realmente inusitado! [risos] O novo disco dele, o ‘Acústico’, está incrível. E essa nova fase dele se parece um pouco com a minha, né?