Para continuar na estrada, o NX Zero precisou se reconstruir e passar por uma crise que quase acabou com a banda. Desse recomeço, surge “Norte”, o primeiro disco de inéditas do quinteto em um período de três anos. Agora, aos trinta anos, eles celebram a continuidade da parceria e da amizade que começou lá em 2001 e apresentam um trabalho maduro, pautado em um rock alternativo que foge daquele emocore que conseguiu consagrar o NX.

Quem conhece a indústria musical sabe que não é fácil se manter nos holofotes. Há quem diga, inclusive, que é ainda mais difícil quando se trata de uma banda. Mas, apesar dos altos e baixos, o NX Zero conseguiu construir uma carreira sólida e manteve a mesma formação por quase uma década – até sair da gravadora e terminar a parceria com o empresário Rick Bonadio. “Foi nessa época em que percebemos que a rotina havia nos desgastado. E não estou falando só do grupo. A amizade também não era mais a mesma, e tudo parecia imposto. Nos afastamos e entramos numa crise artística”, explica o vocalista Di Ferrero em entrevista. Em outras palavras, eles entraram em uma crise de identidade, que só foi superada com algumas quebras de paradigmas.

Depois de reconhecer que a química da banda não era mais a mesma, Di Ferrero conta que viveu um dos piores períodos de sua vida. “Eu olhei para minha carreira e, pela primeira vez, me senti insatisfeito. No último disco, lembro que só estávamos preocupados em colocar uma balada pra garantir público, e isso me deixou muito triste. Então eu reuni todo mundo e disse ‘ou a gente se acerta ou acaba de vez’”, lembra. Assim, para recuperar a amizade e o equilíbrio, o quinteto montou seu próprio escritório e passou por um período de autoconhecimento em Juquehy (SP) no início de 2014. O resultado dessa viagem, que conseguiu não só reaproximar os amigos como também dar fôlego ao grupo, são as faixas do EP “Estamos No Começo De Algo Muito Bom, Não Precisa Ter Nome Não” (2014) e o disco “Norte” (2015).

“Agora estamos bem. Tudo está bem”, explica Di Ferrero. E, para provar que essa é uma das melhores fases do NX Zero, o vocalista falou um pouquinho mais do projeto, que foi lançado em agosto em todas as plataformas digitais e ainda ganhou uma turnê eletrizante que estreou no último sábado (19) em São Paulo (SP). Abaixo, confira o nosso bate-papo:

IULE KARALKOVAS: Como você define essa nova fase do NX Zero? 
DI FERRERO: Foi uma transição muito importante para banda. Estávamos numa rotina que, artisticamente, era muito ruim. Por isso saímos da gravadora e rompemos com o empresário, o que se revelou algo muito bom, porque agora somos nós administramos tudo. Acho que a melhor frase que resume “Norte” é que antes nós escrevíamos como terapia, para desabafar, e agora nos escrevemos por prazer. É um trabalho corajoso, sexual até, não é algo politicamente correto, é apenas sincero.

Foi um período difícil para vocês. A saída da gravadora, o rompimento com o Rick… o que mudou?
Agora estamos artisticamente renovados, inteiros. Todo mundo se sente bem, se entende, estamos unidos em cima do palco. Agora sim, nossa amizade é natural e não forçada. A gente passou a se encontrar, sabe? Nos sentimos como uma família novamente.

Como vocês gravaram “Norte”? 
A primeira composição que surgiu foi “Meu Bem”, que também é o nosso primeiro single. Essa música foi uma espécie de ‘norte’ pro resto do disco, porque ela expressa bem essa nossa nova fase, esse novo som. Ela tem um groove animal, saca? Depois nós fomos trabalhando nas outras faixas. No estúdio, foi uma experiência muito diferente para nós, porque gravamos em rolo, ao vivo. Por isso resolvemos lançar também em vinil, que é algo que sempre sonhamos em fazer.

Vocês já chegaram a admitir que, em tempos difíceis, gravavam separadamente. Isso não acontece mais? 
Não! Agora tá todo mundo junto. No estúdio ninguém podia errar, fizemos numa pauleira só. Mesmo assim, gravamos umas trinta vezes cada take, porque queríamos que ficasse perfeito. E tudo funcionou bem, gravávamos de madrugada, todo mundo rindo e curtindo, e só parávamos de manhã. E, como a galeria dormia na minha casa, nós esperávamos todo mundo acordar pra comer (risos). Foi incrível.

Vocês estão com trinta anos. Com o passar dos anos, que mudou na forma do NX fazer musica? 
Nós tínhamos uma fórmula para compor música: Base, harmonia e aí só encaixávamos a letra. Isso virou uma rotina, uma chatice. Então agora nós não usamos nenhuma regra. Quando estávamos criando e alguém chegava com alguma coisa, fazíamos o inverso: escrevíamos a letra e aí tentávamos colocar uma base e harmonia. Foi tudo mais aberto, democrático, e não vou mentir, fazer isso deu mais trabalho. Mas estou feliz, sabe? Antes nós descartávamos coisas muito boas porque pensávamos ‘isso não cabe, não tem a cara do NX’. E no “Norte” não. É um disco totalmente libertador, cada um pode fazer o que sempre quis fazer.

E o público de vocês? Mudou? 
No começo o público era 80% de meninas. Tínhamos fãs de todas as tribos, pessoas bem diferentes. Acho que continuamos com isso, mas vejo que agora há um pessoal mais velho que também nos acompanha. Da nossa idade, sabe? Eles cresceram conosco.

As histerias nos shows. Continuam?
(Risos). Agora a galera vai nos shows pra ouvir música, e não pra gritar. Isso é muito bom (risos). Ninguém fica gritando sem motivo. Senti que o público passou a entender e digerir o som novo.

Quais as vantagens e as desvantagens de ser independente hoje em dia? 
Nós nos consideramos autônomos e não independentes. Temos nosso escritório, a Deck… ou seja, é um novo tipo de negócio, né? Não precisamos de terceiros para dar certo. E, pra resumir, acho que agora não somos mais um produto e sim uma arte. Paramos de insistir no mercado adolescente, porque isso não rola mais.

No ano passado, conversamos e você me disse que estava tentando resgatar aquela energia do começo da banda. A missão foi cumprida? 
Super! (risos). Quando estávamos gravando o disco, tínhamos um sentimento tão bom, tão enérgico… parecia que estávamos transando com a música! (risos). Na crise, estávamos tentando achar um motivo pra fazer música, mas agora isso acabou. Nós evoluímos, estamos na mesma frequência.

Em “Norte”, como vocês encararam aquela famosa questão de ‘ter que fazer uma música boa pra bombar na rádio”? 
O NX sempre tentou fugir isso, mas nunca soube como. A nossa música foi independente desde o começo, e, você sabe, naquela época nós não precisamos de gravadora pra estourar. E agora… bom, não pensamos em fazer nada com o intuito de estourar. Foi sincero. Pensamos ‘vamos fazer e ver o que acontece’.

Para finalizar, como você define essa nova turnê?
Ela é clean, orgânica e intimista. A disposição da banda no palco mudou, sabe? E não teremos telão, como nos shows de sertanejo. O som é a evidência, não as imagens. Outra novidade é que optamos por tocar todas as faixas do disco, o que é algo inédito. E, por ser um disco bem sexual, o palco ficará todo vermelho… cara, é incrível. Em “Personal Privê” por exemplo, vai descer um globo. Vamos apagar as luzes e deixar as pessoas sentirem a batida.