Os números de Raphael Draccon e Carolina Munhóz sempre impressionam. Enquanto Draccon já vendeu mais de 300 mil exemplares da saga Dragões de Éter e ficou na lista dos livros mais vendidos no Brasil, México e Portugal, Munhóz soma mais de 250 fã-clubes, sete livros lançados e o sucesso estrondoso de Por Um Toque de Ouro, que ganhou duas tiragens de 10 mil exemplares antes mesmo de seu lançamento oficial. Não é atoa, então, que eles são considerados o casal todo poderoso da literatura fantástica.

Atualmente, os dois vivem na Califórnia (Estados Unidos), onde trabalham com cinema. Mas, desde o mês passado, o casal está no Brasil para lançar suas novas obras – Draccon está divulgando Mundo de Dragões (Rocco) e Munhóz Por Um Toque de Sorte (Rocco). Em paralelo, Raphael também comemora a realização de Supermax (Globo), série em que trabalhou como roteirista e que estreia nesta terça-feira (20). Em entrevista, os dois falaram sobre seus projetos atuais e revelaram novidades: Dragões de Éter: Estandartes de Névoa, quarto livro da saga, chegará ao país em 2017; enquanto Carolina lançará o terceiro livro da trilogia Trindade Leprechaun no segundo semestre do ano que vem. Estão preparados?

Confiram minha entrevista com os dois:

Eu conversei com alguns fãs e quase todos eles tentaram imaginar como é a casa e a rotina de vocês. Vocês podem contar pra gente um pouquinho mais desses dois pontos? 
Raphael Draccon: Nossa casa é cheia de livros, presentes e desenhos que os leitores fazem para gente!
Carolina Munhóz: E nossa rotina é bem diferente porque nós escrevemos de madrugada, né? Escrevemos da meia noite até umas cinco, seis horas da manhã; dormimos, acordamos e sempre almoçamos assistindo algum seriado.
Raphael Draccon: Mas até quando a gente assiste um filme ou um seriado a gente está trabalhando, né? Gostamos de discutir as cenas e o roteiro, vendo o que a gente faria de diferente se fôssemos os escritores da história. É uma mistura de prazer e trabalho.
Carolina Munhóz: Durante a tarde nós estamos sempre respondendo e-mails e os leitores nas redes sociais, e como agora também estamos focados em audiovisual, toda a questão de roteiro está sendo feita durante o dia. Depois vem o jantar… e recomeça tudo de novo.
Raphael Draccon: A gente também vai na academia, né? Sempre que sobra um tempinho…

Essa questão de escrever de madrugada, é difícil para vocês? 
Carolina Munhóz: Nós dois gostamos e escrevemos de madrugada há algum tempo. Inclusive, eu já tive um emprego em que precisava trabalhar de madrugada… é muito bom que os dois sejam noturnos, porque se um dos dois fosse diurno, tudo isso não daria certo! [Risos] De madrugada, a casa fica toda acesa, e é ótimo a questão do silêncio, né? É o único momento em que tudo está calmo, quieto e em paz.

Numa era tão tecnológica, o que vocês fazem para as pessoas se interessarem pela leitura? 
Raphael Draccon: Hoje em dia, um escritor precisa saber que ou ele se adapta a tecnologia ou é melhor ele nem entrar no ramo editorial. O nosso mercado mudou porque a internet mudou tudo no mercado de livros, cinema e música. Quando você promove um livro no Facebook, você está concorrendo com uma foto de gatinho e com uma Ivete Sangalo, por exemplo. Por alguns instantes, é como se tudo fosse igual, entende? Então é preciso saber o que atrai mais em uma informação. Além disso, nós lidamos com uma geração hiperativa que tem dificuldades de foco e concentração. Para ela se concentrar em um livro, essa história precisa ser interessante e bem amarrada para que ela sinta vontade de virar a página. Ou seja, um escritor precisa entender tudo isso hoje em dia.

Tem algum personagem que é mais querido para vocês?
Carolina Munhóz: Olha, o Darren de Por Um Toque de Ouro virou o favorito das leitoras e também da minha coleção de personagens. Ele é um daqueles melhores amigos que você deseja ter, sabe? Infelizmente eu ainda não tenho, mas eu o amo de paixão. Também gosto muito da Sophia Coldheart de O Inverno das Fadas, é uma personagem que me tocou bastante.
Raphael Draccon: O meu é o João Hanson. Eu só entendi ele no final do segundo livro, quando percebi que ele era uma metáfora da minha trajetória. A busca dele para se tornar um cavaleiro é, na verdade, uma metáfora da minha busca para se tornar um escritor.

A pergunta que não quer calar é: Quando vocês vão escrever um livro juntos? E como ele seria?
Carolina Munhóz: Então, todo mundo fica esperando um livro sobre fadas e dragões, mas a tendência é que isso não aconteça! [Risos] Nós já temos uma história e um título na cabeça e é algo que a gente quer muito fazer.
Raphael Draccon: Seria um Dark Fantasy… todo mundo pensa em um High Fantasy por conta das fadas e dos dragões, mas queremos algo mais sombrio.
Carolina Munhóz: E está nos planos! Terminando a minha trilogia, o Rapha deve escrever mais uma, depois disso vamos colocar essa ideia no papel.


Quais são os projetos de vocês até o final do ano? 
Carolina Munhóz: Ficamos em tour no Brasil até o final de setembro.
Raphael Draccon: E aí vem a estreia de Supermax, série da Globo que participei como roteirista. Vai ser super bacana, porque essa estreia vai abrir muitas portas para o gênero fantástico no Brasil.
Carolina Munhóz: Deve ficar no ar até dezembro, né? Em paralelo, também temos alguns projetos de livros e roteiros secretos…

E como foi trabalhar com essa galera de Supermax
Raphael Draccon: Foi ótimo porque a Globo me recebeu muito bem. Foi a primeira vez que a emissora teve uma writers room, que é aquela sala de roteiro que todo seriado americano tem, mas que por aqui ainda é novidade. Por conta disso, eles irão dar os créditos para cada roteirista que participou em cada episódio, o que também é uma novidade bacana. Além de ter sido recebido muito bem, foi uma experiência incrível porque lá só tinha fera, né? Ás vezes eu olhava para a galera e pensava ‘caraca, não acredito!’. O próprio Bráulio Mantovani, que é um dos escritores, foi um mentor para mim no início da minha carreira. E tem também o José Alvarenga Jr. [ diretor da série], que deu muita liberdade para os roteiristas e conseguiu uma grande liberdade da Globo, e até agora a gente não acredita que algumas cenas que a gente escreveu vai mesmo pro ar. A liberdade foi tanta que a série chamou atenção de uma galera lá de fora, e a versão internacional já foi até produzida.

O que o público pode esperar da série? Pelo trailer, ela parece ser bem sinistra… 
Raphael Draccon: Além dessa inovação toda, o Alvarenga gosta de dizer que Supermax é uma mistura de gêneros, e realmente é. Tanto que ele reuniu pessoas de diferentes áreas para a produção… o título que eu mais gostei foi algo que vi na internet, porque você sabe né, a internet brasileira é maravilhosa [Risos], “Amazôna Horror Story” [Risos]. E faz sentido, sabe? Eu também gosto de pensar que é uma mistura de Prison Break com Jogos Vorazes, porque há muitas cenas de violência dentro daquelas celas. Mas, ao mesmo tempo, o senso de ficção e realidade se misturam, porque, como já sabemos, o Bial aceitou fazer o Bial. Isso dá um choque na cabeça das pessoas, né?

Carol, para o primeiro livro dessa série, você viajou para Dublin como forma de pesquisa… e nesse segundo livro? Que tipo de pesquisa você fez? 
Carolina Munhóz: Nesse segundo livro, os Leprechauns não estão só em Dublin, na Irlanda. Eu comecei a mostrar outras famílias de Leprechauns ao redor do mundo, então nós temos uma cena em Paris, que é um local que já pude visitar algumas vezes, e em vários outros lugares que já tive chance de visitar ou morar. A novidade, também, é que há cenas no Rio de Janeiro. Foi bem bacana mostrar um pouco da nossa cultura e ver como seria um Leprechaun aqui, com muito sol e festa.

Claro que está tudo muito recente porque você acabou de lançar o segundo livro da série, mas há uma previsão de estreia do terceiro? 
Carolina Munhóz: Eu pretendo finalizá-lo até o ano que vem, e o lançamento ocorrerá mais ou menos nesse período, entre setembro/outubro.

Nós estamos passando por uma virada tanto nas séries quanto nos livros, com personagens femininas fortes que são tratadas como heroínas. O que você espera da literatura daqui para frente nesse quesito? 
Carolina Munhóz: De uns dois anos para cá as mulheres ganharam mais destaque e mostraram que podem ser tratadas de igual para igual em relação aos homens. Vimos personagens fortes e batalhadoras que conquistaram o que são delas por direito, não dependendo de homens nem de situações para isso. Eu estou muito feliz de poder ver esse movimento, ainda mais no meu caso, que tenho sete livros com protagonistas mulheres. A tendência é isso acontecer cada vez mais, o que é ótimo.

Raphael, todo mundo está comentando que esse livro está muito forte, uma verdadeira batalha épica. Você atribui isso a que? 
Raphael Draccon: A ideia era essa mesmo! O livro é uma releitura dos Toku-satsus, que a minha geração cresceu vendo. E os japoneses tinham essa coisa de falar sobre temas fortes como suicídio e agressão, né? Depois, isso deu origem aos Powers Rangers, que era uma coisa mais adolescente, e que também trato no meu livro. Então, quis resgatar essas coisas do passado para que a minha geração lembrasse um pouco desse tempo. Mas eu também trato de temas atuais, como terrorismo e essa coisa dos personagens femininos. Eu vejo que, nessa saga, as personagens femininos são até mais fortes do que os homens.

Se você estivesse numa situação como a dos personagens de Mundos de Dragões, em que posição você estaria? Você seria o líder? 
Carolina Munhóz: Ele seria o ranger vermelho, com certeza!
Raphael Draccon: Sim! Inclusive eu já fui o ranger vermelho, numa versão brasileira dos Powers Rangers que aconteceu por aqui. Na época, eu era estagiário na produtora e eles me contrataram. Lembro que eles me falaram ‘se você fizer o ranger vermelho eu pago o dobro’, e eu fiz! É por isso que tenho mais moral que qualquer outro escritor brasileiro para escrever um livro desse, porque eu fui um ranger vermelho.


Mundo de Dragões – Sinopse: Batalhas épicas e dramas intensos compõem o terceiro e último livro da série Legado Ranger, do escritor e roteirista Raphael Draccon. A obra apresenta um universo inspirado em uma versão adulta, violenta e politizada das antigas séries japonesas Toku-satsus, que marcaram a infância de toda uma geração. Depois de Cemitérios de Dragões e Cidades de Dragões, um portal se abriu e a conexão entre as dimensões se fez. Agora, os cinco sobreviventes levados a lutar numa guerra insana envolvendo armaduras de metal-vivo e sangue de dragão se preparam para a luta final. Mas será que eles serão capazes de libertar a Terra, devastada por reptilianos, demônios e escravidão?

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Por Um Toque de Sorte – Sinopse: De Dublin a Paris, Rio de Janeiro e Hollywood, eles estão por toda parte. São os donos das marcas que você usa, comandam os canais de televisão a que você assiste, criam os aplicativos de celular que você baixa. No segundo livro da série Trindade Leprechaun, iniciada com Por Um Toque de Ouro, Carolina Munhóz dá continuidade à história da jovem Emily O’Connell, uma garota bonita e rica, dona de um império fashion, que descobre ser herdeira de uma rara linhagem desses pequenos seres mágicos considerados guardiões de potes de ouro escondidos. Ela só não esperava que esse legado sobrenatural pudesse levá-la para o centro de um esquema perigoso e cruel. Em sua nova aventura, Emily deixa seu mundo de glamour para trás em busca de um impostor que rouba toques de ouro. Será que ela será capaz de cumprir sua jornada? Isso ela só vai descobrir no final do arco-íris. Se chegar até lá.
Entrevista publicada no site DAMMIT (MTV)