MATÉRIA: 29 de agosto de 2018

Neste ano, um dos convidadas da Bienal Internacional do Livro 2018 foi o escritor David Levithan, autor da grandiosa obra Todo Dia. Aproveitando o momento, o DAMMIT conversou um pouco com ele, que falou sobre a importância de retratar a representatividade hoje em dia. Confira! 

 Em seus livros você aborda muita representatividade. Você teve alguma dificuldade em escrever com esse tema? O que você espera que seus fãs levem com eles de suas histórias? 
O que eu amo fazer como autor é explorar o máximo de identidades possíveis. Por ser um homem gay, comecei com Garoto Encontra Garoto escrevendo histórias felizes sobre personagens gays e a partir daí escrever sobre outros personagens que tradicionalmente não são muito explorados. Eu amo escrever histórias que não foram contadas antes, porque pensando como leitor, eu gosto de ler histórias que não conhecia antes e tudo isso de alguma maneira reflete em quem eu sou. 

Will & Will, livro que você co-escreveu com John Green, foi o primeiro livro jovem adulto com protagonistas gays a entrar na lista de mais vendidos do New York Times. Vocês esperam todo esse sucesso? 
Nós amamos que Will & Will foi o primeiro livro jovem adulto com protagonistas gays a entrar na lista de mais vendidos do New York Times. O mais interessante foi que pensamos que muitos ficariam chateados com isso e que pessoas conservadoras diriam: “nossa, eles eles assumindo o controle”. Porém foi ótimo, porque ninguém disse nada, e isso nos mostra que estamos no caminho certo, que as pessoas estão mudando. 

Em 2003 você lançou o seu primeiro livro, Garoto Encontra Garoto, que fala sobre a religião vs. o relacionamento. Qual foi a sua inspiração para a história? 
Garoto encontra Garoto é interessante porque – eu sei que vai parecer estranho porém vai fazer sentido – mas foi inspirado no meu melhor amigo sobre outro melhor amigo. Um dia estávamos conversando, ele é gay também, e enquanto eu tive pais que super me aceitaram, ele cresceu em uma família conservadora e tinha que fingir ser hétero e fingir casar com uma amiga que era lésbica, para conseguirem se mudar e se tornarem quem realmente são. Então eu queria escrever um livro para a versão adolescente dele e mostrar que ele não deveria escolher. Que a religião deve aceitar você como você é! Que ninguém precisa fingir casar com alguém para ser quem é. Então ele estava presente em meus pensamentos enquanto eu escrevia. Então o livro carrega esse tema que mostra que a religião não significa que você não pode aceitar pessoas gays em seu meio. 

Todo Dia acabou de estrear nos cinemas. Você esteve envolvido no processo? Como é ver seus personagens tomando vida? 
Eu estive um pouco envolvido no processo sim, conheci o roteirista, o diretor e fui visitar o set uma vez. Mas eu não sabia como seria até assistir o filme, porque em Todo Dia temos 16 atores interpretando o mesmo personagem e mesmo assistindo as gravações de pequenos trechos, eu não tinha ideia de como seria no final uma só pessoa. Quando eu assisti o filme eu consegui ver e isso me surpreendeu. Como autor, para mim era muito fácil só escrever “acordei em um corpo diferente”, mas para os produtores do filme era mais complicado, eles precisaram achar corpos e fazê-los parecer a mesma pessoa. É bem incrível. 

Se você acordasse no corpo de outra pessoa por um dia e tivesse a chance de mudar algo no mundo, quem você seria e o que mudaria?
Uma coisa que aprendi é que nunca quero acordar no corpo de outra pessoa, é muita responsabilidade. Mas respondendo facilmente, eu gostaria de ser presidente por um dia e tentar desfazer os prejuízos que foram feitos. 

Você tem outros projetos que está trabalhando no momento? 
Sim, no momento estou terminando Algum Dia, que é a continuação de Todo Dia, que será lançado em Outubro nos Estados Unidos e deve sair por aqui no ano que vem. O primeiro livro foi sobre quem você é se não tem o seu próprio corpo e o próximo livro será sobre as escolhas que você faz. A (como é chamado o protagonista de Todo Dia) fez todas as boas escolhas, sempre que esteve em um corpo ele respeitou e foi bom. Mas em Algum Dia, teremos a perspectiva de uma pessoa que conhecemos no primeiro livro, o revendo Pool, que faz todas as más escolhas do tipo “hey, estou em seu corpo hoje e posso fazer o que eu quiser”. Então é sobre as conversões desses dois lados. 

Qual dos seus livros você gostaria que fosse o próximo a ser adaptado? 
Honestamente, gostaria de ver o livro que escrevi com a Andrea Cremer, Invisível. Eu acho que se tornaria um filme incrível. Talvez seja um pouco estranho, porque meu personagem é invisível. Mas se eles conseguiram colocar 16 atores para fazer o mesmo personagem, eles conseguem fazer isso, né? Eu adoraria! 

Existe algum jovem autor que tem sido uma inspiração para você? 
Muitos outros jovens me inspiram, é difícil dizer citar só alguns. Um dos meus escritores favoritos é o M.T. Anderson, porque ele escreve um livro diferente toda vez. E eu amo autores que fazem isso e estão sempre me surpreendendo com histórias diferentes.

Reportagem: Amanda Justo, Matheus Fabbris, Iule Karalkovas e Giulia Bressani.