No ano em que comemora 30 anos de carreira, o rapper Thaíde lançou na Bienal Internacional do Livro de São Paulo a obra Thaíde: 30 Anos Mandando a Letra (Novo Século), que foi escrita pelo jornalista Gilberto Yoshinaga e traz trinta letras de rap comentadas e contextualizadas para o leitor conhecer e entender um pouquinho mais sobre a trajetória do cantor.

Ao longo de sua carreira, Thaíde já compôs mais de cem letras, que foram distribuídas em seis álbuns com seu antigo parceiro DJ Hum, um disco solo e algumas coletâneas. Em entrevista, o rapper contou, com exclusividade, mais sobre seu novo álbum de estúdio e ainda falou sobre conceito de Thaíde: 30 Anos Mandando a Letra. Confira:

Você estreia na Bienal do Livro comemorando 30 anos de carreira. O que você aprendeu durante esse tempo? 
Eu aprendi tantas coisas… aprendi que você ficar cansado de trabalhar é o melhor cansaço que existe. E temos que trabalhar sem reclamar, porque tanta gente queria um trabalho e não tem, né? Aprendi que você deve abraçar e enfrentar todas as oportunidades que você conseguir, aprendi a dar valor para as boas e verdadeiras amizades, e principalmente aprendi com tudo o que aconteceu comigo, de bom ou de ruim. Tudo o que aconteceu, está acontecendo e ainda vai acontecer, eu aproveito.

O livro reuniu trinta letras que marcaram a sua carreira… mas o seu acervo é enorme! Como funcionou essa seleção?
Foi muito difícil. Meu acervo precisou passar por uma peneira, né? Algumas músicas a gente já tinha certeza, como Corpo Fechado, Senhor Tempo Bom, Malandragem Dá Um Tempo, mas outras foram mais complicadas. Por exemplo, algumas canções que nem fizeram tanto sucesso nós colocamos, por conta da história riquíssima que elas têm.

Você teve uma preocupação em selecionar letras mais recentes? Ou só entraram as músicas mais antigas? 
Por incrível que pareça nós conseguimos selecionar letras do início, do meio e também letras mais recentes. Coloquei Consciência, que foi uma das primeiras músicas que eu escrevi, coloquei canções dos anos 90, 2000… e até uma inédita, que estará no meu novo disco, que será lançado no final do ano.

Falando em novo disco… o que você nos contar sobre esse projeto? 
Serão dez faixas, todas inéditas. Ele se chamará Vamo Que Vamo Que o Som Não Pode Parar e trará várias participações especiais, como a da minha esposa Ana P., Marcelo D2, Black Alien, Rincon Sapiência, Ndee Naldinho, Doncesão, Rodriguinho e Kurtis Blow, uma lenda do rap norte-americano.
Qual é a importância de lançar um livro como esse na Bienal do Livro? 
Um livro contendo letras de rap brasileiro, um gênero musical que já foi e ainda é marginalizado, que foi considerado um gênero de mau gosto, com letras sem conteúdo, é indescritível. Lançar esse livro na Bienal Internacional do Livro contradiz muita coisa. Contradiz tudo aquilo que falaram de negativo do rap. Sabe, se o rap fosse tudo aquilo que disseram, esse livro não estaria aqui hoje sendo lançado por uma editora como a Nova Século. É uma vitória não só para mim, mas para todo o hip hop brasileiro.

Como um dos maiores representantes do rap brasileiro, como você enxerga o gênero no Brasil? O que precisa melhorar para ele passar a ser mais reconhecido na mídia? 
Precisamos nos profissionalizar mais, aprender com os profissionais que já estão há muito tempo no mercado e, acima de tudo, nos unir mais. O grande problema do rap brasileiro é união. Enquanto não tivermos uma corrente com elos mais firmes, nós vamos continuar andando no mesmo ritmo. Temos que parar de fazer música para os amigos e os vizinhos, sabe? Se profissionalizando a gente percebe que há um público que consome o rap e um mercado que compra o rap.

E você pretende lançar uma biografia em breve? 
Sim. Ela está programada para ser lançada no início do ano que vem. 


Gilberto Yoshinaga, autor de Thaíde: 30 Anos Mandando a Letra, fala sobre o processo de criação do livro. 

 Como surgiu a ideia de você escrever esse livro? 
Eu sou jornalista e trabalho com o rap há muito tempo. Já sou um velho conhecido do Thaíde, então, quando ele estava prestes a completar 30 anos de carreira, nós começamos a conversar sobre escrever uma biografia. E foi isso. A ideia inicial era escrever uma biografia, mas, observando com mais calma as histórias de vida dele, eu percebi que as músicas falam por si só. Então, como ele já tinha a ideia de montar um livro com letras comentadas para mostrar as ideias por trás das composições, os acontecimentos e reflexões que inspiraram ele a escrever, nós decidimos fazer esse livro para comemorar essa marca. Mas a biografia, que eu também vou ter a honra de escrever, vai sair do papel e será lançada em breve.  

O que você aprendeu durante esse tempo em que trabalhou com o Thaíde? 
Eu tenho 37 anos e acompanho o Thaíde desde os 9 anos. Sou um fã, né? Ouvi as músicas dele desde muito cedo, então, muitas coisas que eu assimilei sobre a vida e o mundo eu aprendi com ele. Aprendi a não ter preconceito, o que foi muito importante, porque a família japonesa costuma ser preconceituosa, né? E o mais legal disso tudo foi aprender mais sobre a história de vida dele. O berço dele foi sofrido, e apesar de ter estudado só até a terceira série, hoje ele é um dos principais nomes do rap e dá até palestras.

Entrevista publicada no site DAMMIT - MTV.