Há alguns meses, quatro dos maiores nomes da internet resolveram se juntar para fazer um livro. Dessa parceria entre Matheus Rocha (Neologismo), Ique Carvalho (The Love Code), Frederico Elboni (Entenda os Homens) e Arthur Aguiar (Cantor)¹ surgiu Muito Amor, Por Favor (Sextante), obra lançada durante a Bienal do Livro de São Paulo que já é considerada um sucesso de vendas. 

Durante o evento, eu me encontrei com Matheus, Ique e Frederico para conversar um pouquinho sobre o conceito do livro e, claro, sobre o amor. O bate-papo durou cerca de meia hora e foi pra lá de especial: Teve Fred falando que adora abacaxi (assim que começamos a conversa, pedi que eles falassem o seu nome e uma frase, ao passo que Elboni soltou um “Sou Frederico Elboni e gosto de abacaxi”), teve Ique falando sobre como sua namorada as vezes não entende o quanto ele ama escrever e sobre como ele tem pavor de aviões, e até Matheus Rocha dançando quando, no meio da sala dos autores, uns artistas começaram a tocar tambor. Só risadas e muita positividade, gente!

Saca só nossa conversa:

Como surgiu a ideia desse livro? E como foi a dinâmica ao escrever, já que são quatro autores?
Frederico Elboni: Foi um convite muito legal que acabou surgindo da editora. Fazer um livro com quatro pessoas é diferente pelo simples fato de você ter que dividir as ideias, né? Apesar de cada um ter a sua parte, há um nível de divisão maior, afinal cada um tem a sua própria essência e o seu toque. Por outro lado, foi muito bacana, porque pudemos conversar muito entre si, e isso criou uma história muito mais rica do que se uma pessoa só tivesse escrito esse livro.

Quando tempo vocês demoraram para terminar a obra? Vocês se encontraram durante esse meio tempo? 
Frederico Elboni: Foi muito menos lírico, né? Foi algo como “escreve aí e me manda”! [Risos] Matheus Rocha: Quando a gente recebeu o convite, a ideia já estava pré-concebida, nós sabíamos que seria sobre os quatro elementos do amor. Então a gente só precisou saber qual era a nossa parte e escrever sobre ela. Depois da divisão, nós tivemos que escrever textos com base no nosso elemento, tudo com muita liberdade, claro.

E porque dividir o amor em elementos? Quais são eles? Vocês acham que o amor é assim? Uma hora intenso demais, outra hora mais calmo… 
 Ique Carvalho: É exatamente isso. Não existe um amor linear. Existem fases. Em uma fase você está mais envolvido, em outras não. E tudo na sua vida influencia, o trabalho, os problemas… o meu elemento, que é o Fogo, mostra aquela paixão do início onde você ainda está descobrindo a pessoa e tudo está muito novo ainda. Acredito que todo namoro começa igual, sabe? Com aquela empolgação de encontrar todo dia, de não desgrudar, aquele tesão inicial gostoso onde tudo parece perfeito, o toque, o cheiro da pessoa…
Matheus Rocha: Essa divisão ficou muito legal porque o amor tem várias fases e, como o Fred já disse, cada um está vivendo um tipo de amor no momento. Então, quando as pessoas lerem o livro, elas vão se identificar com alguma parte de algum dos quatro elementos. No meu caso, eu peguei a Terra, que é aquele amor mais sólido, que já criou raiz. É um relacionamento que já tem mais tempo, então você já tem mais intimidade, já conhece os defeitos e as qualidades, sabe quais os problemas do namoro e onde você pode melhorar. Acho que todo mundo já falou sobre o amor, mas esse recorte oferece quatro visões diferentes para fazer desse amor um sentimento ainda mais inédito e plural. Ique Carvalho: E isso é muito bacana! Eu, por exemplo, já tive sete namoradas, então se você ler a minha parte e… [Ique foi interrompido pelas nossas gargalhadas]
Matheus Rocha: Você tá vendo que ele é vivido, né? [Risos]
Ique Carvalho: Que isso?! [Risos] Tem que viver! Você vai lendo o livro e vai relembrando de coisas que você viveu e vai ser legal as pessoas passarem por isso. Todo mundo lembra das ex-namoradas, ex-namorados, né? Não tem como esconder isso, é inevitável não lembrar de alguma coisa gostosa que você viveu.
Frederico Elboni: O meu elemento é o Ar, que representa aquele amor mais leve e mais calmo. É um amor sem preocupação que se divide em duas partes e que reflete bem a fase de vida que estou. Nunca fui de namorar e sim de viajar. Conheço muitas pessoas, uma menina no interior aqui, uma menina no avião ali… são muitas histórias loucas! É um amor volátil, né? Acho que é uma paixão, mas não chega a ser como o fogo, é algo bem mais leve. Algo como “a gente se vê… e depois se despede”.
Ique Carvalho: E depois eu que sou o rodado! [Risos]
Frederico Elboni: Não, não! [Risos] Nessa questão do amor leve é porque sou uma pessoa muito tranquila, não tenho ciumes… não quero mais namorar gente louca, só preciso de alguém tranquilo que goste de viajar.
Ique Carvalho: O Fred escreveu um texto incrível recentemente, Amor de Domingo, que explica bem isso. Ás vezes a gente está naquele amor louco de sexta-feira, mas a gente só quer um amor de domingo, pra ver seriado e ficar quietinho. O bom desse livro é que uma pessoa poderá conhecer as diversas faces do amor e talvez decidir o que quer daqui pra frente.
Frederico Elboni: É cara… eu quero uma coisa calma! Ás vezes você só precisa de alguém que olhe para você e fale “ow, saiu a nova temporada de Stranger Things, vem ver aqui em casa”.

Atualmente, o que é preciso para um relacionamento dar certo? 
Frederico Elboni: A gente precisa ter mais paciência, né? Há trinta, quarenta anos atrás, a gente não tinha muita ambição, a vida era casar e ter filhos. Hoje, se eu brigo com você tudo bem, o Tinder está aí ou viajo pra conhecer um outro alguém… é tudo muito efêmero, então o nível de paciência precisa ser maior. Qualquer pessoa que você convive todo dia é difícil.
Matheus Rocha: Os sentimentos precisam ser muito fortes hoje em dia. Eles precisam ser fortes e verdadeiros pra virar um amor duradouro e isso é muito difícil, porque ás vezes você termina um namoro já tendo outra pessoa em mente, né? Antigamente existia todo um padrão, e hoje você pode ser feliz sozinho, pode ser feliz com um poliamor, enfim…
Frederico Elboni: Mas essa questão de “ser feliz” cria uma irrealidade muito grande, né? Vejo muitas pessoas que largaram tudo nessa de “eu quero ser feliz”. Mas não é assim, a vida precisa de paciência.

Como é a vida de vocês? Quer dizer, vocês estão lançando um livro juntos, mas cada um tem o seu projeto pessoal e também estão lançando obras individuais²… como conciliar tudo isso? 
Ique Carvalho: Foi um inferno! Ela me ligava todo dia [referindo-se, aos risos, a editora que estava na sala]. Também tem a minha namorada que sempre fala “você só pensa em livro e só pensa em escrever”. Mas é assim mesmo, né? Dá uma confusão danada porque eu também tenho uma agência… mas no fim deu tudo certo e o resultado ficou incrível. Quase perdi a agência, mas o livro está aí! [Risos]
Matheus Rocha: Prioridades! [Risos] Claro que em alguns momentos a gente precisa renunciar alguma coisa, porque para conquistar algo na vida precisamos renunciar outra. Foram dias bem corridos porque lancei No Meio do Caminho Tinha um Amor (Sextante) e logo comecei a escrever Muito Amor, Por Favor. Mas no final deu tudo certo e é um prazer enorme saber que estamos fazendo alguém sorrir com esses livros.
Ique Carvalho: Essa sua pergunta é tão boa! Eu queria trazer minha namorada aqui porque ás vezes ela não entende essa profissão. [Risos] Ás vezes estou falando com ela e tenho uma ideia, então pego o telefone e vou escrever. Ela fica muito irritada! [Risos]
Frederico Elboni: Imagine eu que demoro muito para escrever… fico horas e horas com o dicionário procurando sinônimos. Não é fácil.

Como vocês enxergam todo esse fenômeno dos youtubers? 
Frederico Elboni: Atualmente o meu carro chefe é o YouTube. Tento sempre fazer essa crossmedia entre o blog, YouTube e Snap, que também dá um retorno muito grande para mim. É uma democracia, né? Se os livros estão ali é porque tem gente que compra. Não vejo deméritos nenhum nesses livros, porque eles podem ser a porta de entrada do público para livros mais densos.
Ique Carvalho: Povo gosta de falar que o brasileiro não lê, então agora vamos ver se o pessoal começa a ler, né? A tendência agora é todo mundo fazer esse crossmedia.
Matheus Rocha: É legal para a própria literatura. Na adolescência eu era obrigado a ler grandes clássicos da literatura. Era uma leitura pesada, principalmente porque você sabia que iria cair na prova, então era meio impossível sentir prazer em ler porque o vocabulário era muito difícil também. Agora você tem esses livros com o vocabulário que a sua geração usa e acredito que isso será a porta de entrada para outras obras.

Vocês querem deixar alguma mensagem? 
Frederico Elboni: Eu realmente gosto de abacaxi.
Matheus Rocha e Ique Carvalho: Comprem o livro!

¹ Arthur Aguiar é cantor, ator e, agora, escritor. Ele não estava durante a entrevista, mas no livro ele disserta sobre o amor Água.
² Frederico também lançou na Bienal o livro Só a Gente Sabe o Que Sente (Benvirá). Matheus Rocha lançou No Meio do Caminho Tinha um Amor (Sextante) em junho e Ique Carvalho continua com a divulgação de Faça Amor, Não Faça Jogo (Gutenberg).
Entrevista publicada no site DAMMIT (MTV)